O
psicanalista Contardo Calligaris, em sua coluna no jornal 'A Folha de São
Paulo' do dia 21 deste mês, ao expor suas idéias sobre os efeitos da tortura,
refere-se à maneira como alguns pais lidam com 'mentiras' de suas crianças. Diz
ele a certa altura: "Quase sempre, quando uma confissão é exigida, as
crianças mentem com obstinação diretamente proporcional à de seu acusador. Elas
fogem assim de uma humilhação radical, em que renunciariam à sua própria
subjetividade: desistiriam de ter segredos e aceitariam que a versão do
acusador substituísse a versão que elas gostariam de contar como sendo a
história delas. Claro, se você insistir, ameaçando a criança com punições cada
vez mais requintadas, a criança talvez 'confesse', mas a confissão será apenas
um ato de desistência, em que mesmo o inocente se dirá culpado do jeito que o
acusador pede".
Concordamos
com essas afirmações. Entretanto, pais e
educadores que desejam criar futuros
cidadãos comprometidos com a verdade, se preocupam com a conduta ética das
crianças. Com razão, sabemos dos males causados na sociedade pelas palavras
usadas para encobrir e falsear.
Para
refletir sobre essa questão, podemos caminhar mais um pouco e pensar que ao
acolher a insistência das crianças, especialmente as menores, em manter suas
´mentiras´, os adultos estão respeitando na ´verdade´ sua integridade psíquica.
Se ela ainda não pode abrir mão das próprias versões sobre os fatos, é porque
isso atingiria profundamente seu valor
pessoal. É esse respeito que favorecerá, mais tarde, a capacidade e a coragem
do indivíduo para ser mais honesto. Pessoas que foram submetidas, ´dobradas´,
têm motivos para não saber expressar o que pensam e temer o confronto com seus
semelhantes. Portanto, tendem a ser mais dissimuladas, ´mascaradas´.
O
modelo de honestidade que a criança precisa ter para ocupar uma posição ética
está na atitude dos educadores, na maneira como resolvem as situações sem
exercer violência moral. Mesmo quando a criança não tem condições de assumir
uma confissão, deve ser chamada, de acordo com sua idade, a corrigir ou
consertar o dano que causou. Isso a
responsabilizará, mantendo sua dignidade.
Helena Mange
Grinover -
Psicologia Clínica; professora na UNIP e do Departamento de Psicanálise
Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis.
http://www.institutozeroaseis.com.br/
Marcia
Arantes –
Psicóloga; professora de Orientação Profissional - Faculdades Paulistanas;
Trabalho de Promoção do Desenvolvimento Pessoal para Professores e Alunos do
Instituto Europeo Di Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis.
http://www.institutozeroaseis.com.br
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