sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Colaboração


Na praia, descontraídos, dois meninos, de aproximadamente 7 anos, jogam frescobol. Entre risadas e frases dispersas, um diz ao outro, caçoando: 'Hahá, essa você não pegou!..' enquanto o amigo corria para pegar a bolinha lançada bem longe. A cena se repetiu alternando a vez de quem não pegava a bola, até que um falou: 'Esse jogo está chato!'. Chamou nossa atenção o fato de que comemoravam o erro do companheiro,  o regozijo era sobre a falha do outro, e não pelo acerto da jogada. Claro que muito pouco jogo aconteceu...

O frescobol é uma brincadeira que consiste em rebater a bolinha lançada pelo parceiro, sem deixá-la cair no chão. Não há quadra delimitada, nem pontuação individual por acertos. O objetivo comum é manter a bola no ar. Para isso, cada jogador deve remetê-la ao outro, para que 'acerte' e devolva. A grande maioria dos jogos se baseia no oposto: fazer o adversário errar. Essa brincadeira propõe, portanto, uma mudança de parâmetro que os nossos menininhos não chegaram a perceber...

Os jogos oferecem situações onde se exerce a competição e a vontade de ser melhor que o outro. Entretanto, esse exercício deve ir até o limite das regras estabelecidas. Ultrapassá-las é invalidar a disputa esportiva.  Nesse sentido, jogar é uma atividade que tem função social  e educativa importantes. Permite dar vazão às tendências humanas como a agressividade, o orgulho, a vingança, sem que haja violência e destruição. Não é o que temos visto, tristemente, acontecer nos estádios...

Os nossos protagonistas apenas buscaram satisfazer os desejos de competir e vencer, mas com isso impossibilitaram a realização da brincadeira, pois a bolinha foi quase sempre parar no chão. Não cometeram nenhuma violência física, mas o jogo ficou 'chato'. Ficaria interessante se tivessem entendido que o mérito nessa diversão era outro: desenvolver cada vez mais a habilidade de pegar a bola e possibilitar, por meio da sua jogada, o  mesmo para o parceiro.

A cena nos faz pensar no papel importante que teria um adulto que ajudasse as crianças a perceberem o prazer de se desafiar e se aprimorar, sem precisar fazer alguém perder.

O desenvolvimento da capacidade de colaborar sustenta  a 'bola no ar' nos 'jogos da vida': no trabalho, no amor, nas amizades.

Helena Mange Grinover - Psicologia Clínica; professora na UNIP e do Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/

Marcia Arantes – Psicóloga; professora de Orientação Profissional - Faculdades Paulistanas; Trabalho de Promoção do Desenvolvimento Pessoal para Professores e Alunos do Instituto Europeo Di Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário