quarta-feira, 20 de junho de 2012

O filho adotado



'Olha que gracinha! É a cara do pai!' diz a tia. 'Os olhos são iguais aos da mãe!' afirma a avó. ' A mãozinha é idêntica a do avô!' exclama orgulhoso o papai. Ou ainda, 'puxa, não tem nada da irmã!'

O bebezinho é frequentemente recebido com esses comentários. Parentes e amigos buscam semelhanças físicas, por vezes um tanto forçadas, para reconhecer que o novo membro é da família, faz parte das suas histórias. À medida em que for crescendo, outras características surgirão, gerando novas comparações. 'Ele tem o mesmo jeito de falar do pai'. 'Gosta de música como a avó'.'Não gosta de matemática como a mãe!'...'Puxou ao tio, é dorminhoco!'. Ou então: 'não sei a quem puxou, não tem ninguém assim na família.'

Quando o bebê não é filho biológico, a busca por traços físicos deixa de ter sentido. É por meio de outros caminhos que a família inclui a criança.

Muito cedo pais adotivos desenvolvem intimidade com o filho. Ao alimentar, acalentar, acalmar, educar, conhecer suas necessidades e desejos, eles se tornam as pessoas que a criança reconhece como seus pais. Este processo também fortalece nos adultos a identificação de que são os genitores dessa criança, o que os leva a dizer 'meu filho', sem precisar procurar 'a mãozinha parecida com a do avô'.

Entretanto, justamente por formarem uma família, estes filhos sentem também a necessidade de ter uma história que os una aos pais. Estes têm a função de contar à criança adotada como tudo começou: quanto a desejaram, como decidiram adotá-la, como foi o processo, a chegada, se sabem ou não algo a respeito da família de origem...

Essas histórias serão repetidas e repetidas...fornecendo um apoio fundamental para ela organizar um panorama de como e porquê entrou na família. Sem esses relatos, a criança ficará girando em falso,  presa a uma indagação sem resposta que perturba a construção da idéia de quem ela é.

Espera-se que filho adotivo possa construir a sua subjetividade. Assim como o filho biológico, terá atitudes que os pais apreciam, outras que nem tanto, algumas características lembrarão certos membros da família, e outras não se saberá de onde vieram...

Helena Mange Grinover - Psicologia Clínica; professora na UNIP e do Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/

Marcia Arantes – Psicóloga; professora de Orientação Profissional - Faculdades Paulistanas; Trabalho de Promoção do Desenvolvimento Pessoal para Professores e Alunos do Instituto Europeo Di Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/

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