quinta-feira, 28 de junho de 2012

Está escondido, não sumiu para sempre...


A mãe de Gilberto, garoto de três anos de idade, relata que só sai de casa quando ele está dormindo. Desta maneira evita o sofrimento e a enorme choradeira do filho. Para deixá-lo na escola, vai embora sem que ele veja. A separação só pode ocorrer assim: às escondidas.

Na vida das crianças, a ação de esconder ocupa um lugar bastante importante. Os bebês, com poucos meses, já se divertem diante da surpresa de sumir e aparecer por trás de uma fralda. Mais tarde começam a jogar ou deixar cair objetos para observar o 'desaparecer e reaparecer'. Segue-se um número infindável de jogos infantis como o esconde-esconde, cabra cega, pique, cabanas e casinhas, onde os pequenos somem das vistas dos adultos, e uns dos outros.

Todas estas brincadeiras criam e fortalecem a capacidade de aguentar as separações, o tempo em que  algo ou alguém querido deixa de estar junto à criança sem causar uma angustia insuportável.

O espaço entre a ausência e a presença só pode ser ultrapassado com tranquilidade quando há a certeza de que o desaparecido continua a existir. Apesar de não estar sendo 'visto pelos olhos' está presente e vivo na memória, na imaginação, no pensamento. Assim se constrói o universo mental que dá suporte ao desenvolvimento de atividades criativas e culturais como: brincar, estudar, escrever, trabalhar...

A mãe de Gilberto procura poupá-lo do sofrimento causado pela separação. Entretanto, a estratégia usada por ela tende a aumentar a insegurança do garoto, pois acrescenta mistério a algo que seria corriqueiro. Desta maneira, o filho não consegue participar do movimento da mãe usando sua capacidade mental para mantê-la viva e presente dentro dele. Conversar e iniciar pequenas ausências na presença do menino poderia desencadear um processo inverso no qual ele iria ganhando maior independência.

Representar as cenas de 'ir e vir' por meio de brincadeiras, estórias, canções, promove essa construção fundamental para todas as capacidades mentais da criança.

Helena Mange Grinover - Psicologia Clínica; professora na UNIP e do Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/

Marcia Arantes – Psicóloga; professora de Orientação Profissional - Faculdades Paulistanas; Trabalho de Promoção do Desenvolvimento Pessoal para Professores e Alunos do Instituto Europeo Di Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/

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