A mãe de Gilberto, garoto de três anos de idade, relata que só sai de
casa quando ele está dormindo. Desta maneira evita o sofrimento e a enorme
choradeira do filho. Para deixá-lo na escola, vai embora sem que ele veja. A
separação só pode ocorrer assim: às escondidas.
Na vida das crianças, a ação de esconder ocupa um lugar bastante
importante. Os bebês, com poucos meses, já se divertem diante da surpresa de
sumir e aparecer por trás de uma fralda. Mais tarde começam a jogar ou deixar
cair objetos para observar o 'desaparecer e reaparecer'. Segue-se um número
infindável de jogos infantis como o esconde-esconde, cabra cega, pique, cabanas
e casinhas, onde os pequenos somem das vistas dos adultos, e uns dos outros.
Todas estas brincadeiras criam e fortalecem a capacidade de aguentar as
separações, o tempo em que algo ou
alguém querido deixa de estar junto à criança sem causar uma angustia
insuportável.
O espaço entre a ausência e a presença só pode ser ultrapassado com
tranquilidade quando há a certeza de que o desaparecido continua a existir.
Apesar de não estar sendo 'visto pelos olhos' está presente e vivo na memória,
na imaginação, no pensamento. Assim se constrói o universo mental que dá
suporte ao desenvolvimento de atividades criativas e culturais como: brincar,
estudar, escrever, trabalhar...
A mãe de Gilberto procura poupá-lo do sofrimento causado pela
separação. Entretanto, a estratégia usada por ela tende a aumentar a
insegurança do garoto, pois acrescenta mistério a algo que seria corriqueiro.
Desta maneira, o filho não consegue participar do movimento da mãe usando sua
capacidade mental para mantê-la viva e presente dentro dele. Conversar e
iniciar pequenas ausências na presença do menino poderia desencadear um
processo inverso no qual ele iria ganhando maior independência.
Representar as cenas de 'ir e vir' por meio de brincadeiras, estórias,
canções, promove essa construção fundamental para todas as capacidades mentais
da criança.
Helena Mange
Grinover - Psicologia Clínica; professora na UNIP e do
Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Conselho do
Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/
Marcia
Arantes – Psicóloga; professora de Orientação Profissional - Faculdades
Paulistanas; Trabalho de Promoção do Desenvolvimento Pessoal para Professores e
Alunos do Instituto Europeo Di Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a
Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/
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