quarta-feira, 30 de maio de 2012

Criança desesperada!


'Ele não gosta dessa comida, então eu preparei um macarrão, senão, sei que não comeria nada', diz a mãe de um menino de seis anos. 'Já me disseram que faço tudo o que ela quer, que devo ter mais voz ativa', são as palavras da mãe de uma garota de quatro anos sobre a cena de birra diante da loja de brinquedos'. As crianças sentem muito quando o pai viaja; então, sempre que volta, traz tudo que elas pediram', é o comentário de outra mãe.

Até que ponto é importante satisfazer a vontade dos filhos? 

Há um período inicial em que os pequenos devem ser atendidos quase que integralmente. Precisam dessa dedicação para que possam construir a confiança nos adultos, na sua própria capacidade de suportar frustrações e manter a esperança no futuro. Podemos, por exemplo, observar como os bebezinhos aguentam cada vez mais tempo, sem chorar, a espera por um adulto que os atenda. Eles adquirem tolerância e sem desespero confiam na satisfação que virá. Essa conquista se estende para a vida: esperar os pais na saída da escola, o doce preferido na sobremesa, o presente no dia do aniversário, a chegada dos amigos, os encontros com namorados. Também deverá haver tolerância para concluir a lição, prestar atenção nas aulas, enfrentar dificuldades no trabalho ...

O imediatismo faz parte  das relações  de vício e dependência. Quando a falta de algo é insuportável, a esperança desaparece do horizonte e tudo 'tem que ser já'.

Para criar esse recurso interno da tolerância e confiança no futuro, a criança precisa de uma alternância de duas situações: ser atendida  o suficiente para não se desesperar  e também ser frustrada para continuar buscando o que deseja. O desafio nessa jornada é a dosagem de cada uma dessas situações. Com intuição e sabedoria a dose será definida de maneira variável na interação particular de cada criança com sua família e educadores, naturalmente com muitas idas e vindas.

Nos nossos exemplos, os pais mostram diferenças e dúvidas. Não podemos saber se seus filhos receberam demais ou se foram submetidos a carências insuportáveis em determinado momento, pois ambos os casos  podem redundar em 'intolerância'.

É preciso cuidado quando, rapidamente, dizemos que 'os pais hoje em dia fazem tudo que seus filhos querem', como se a solução fosse frustrá-los.  Algumas crianças ou jovens realmente precisam de uma  atenção especial, mas esta deve ser para ajudá-los a ultrapassar, sem desespero, a angustia diante dos desejos não atendidos. Certamente, isso não se dará com pais e mães oferecendo comidas, brinquedos...


Helena Mange Grinover - Psicologia Clínica; professora na UNIP e do Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/

Marcia Arantes – Psicóloga; professora de Orientação Profissional - Faculdades Paulistanas; Trabalho de Promoção do Desenvolvimento Pessoal para Professores e Alunos do Instituto Europeo Di Design; Membro do Conselho do Instituto Zero a Seis. http://www.institutozeroaseis.com.br/

Extraído do blog: www.vivazpsicologia.blogspot.com

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